quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Rumo à tempestade do afeto

O outro dia eu fiquei te olhando...

você estava toda linda
cantando com os olhos fechados.

Naquele momento eu me dei conta
que a tua presença me faz feliz.

Eu senti um frio louco na barriga,
e a frustração inevitável de querer racionalizar
aquilo que só pode ser sentido.

Eu fiquei olhando você cantar,
tentando ignorar a multidão de sentimentos que surgia no meu peito,
quando o tempo parou....

e você ficou mais linda ainda.

Naquele momento me deu uma vontade enorme de ser feliz
de sepultar minha tristeza
e embarcar novamente rumo à tempestade do afeto.

Quando eu voltar
vou desmontar todos os tijolos da muralha interna
que me separa dos teus braços.

O ostracismo do meu coração há de chegar ao fim.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010


domingo, 26 de dezembro de 2010

Sob o impiedoso sol porteño

Estou sentado aqui em Buenos Aires
à beira do Rio da Prata
fumando meu cigarro
sob o impiedoso sol porteño
aguardando ansiosamente
meu vôo no Aeroparque

Já se foi um dia e meio de viagem
e finalmente Maringá parece longe
e San Rafael tão perto

(...andava um pouco enjoado das paredes rosas do DCE...)

Já é véspera de Natal
mas eu não ligo não
estou feliz em poder ver minha família
porque para um nômade como eu
é dificil se sentir em casa

...minha casa é qualquer lugar no mundo
onde estejam as pessoas que eu gosto...

Pedi um litro de cerveja Iguana
(não tem Quilmes e nao vou tomar Brahma na Argentina)
e com cada gole cai a ficha:
finalmente estou de férias!

Logo mais me aguarda a busca miserável por um emprego
(com a consciência clara que serei explorado)
As aulas intermináveis
(quando quero estar no boteco)
O Centro Acadêmico
O Diretório Central
(que queremos descentralizar)

Logo mais me aguarda o tédio e a correria
da minha vida cotidiana

Mas não é todo dia que eu tomo cerveja Iguana
e contemplo minha vida diante deste grande a calmo rio
(sob o impiedoso sol porteño)
admirando a poesia tecnológica do pousar e decolar
dos aviões de médio-porte
e o estrondoso som de seus motores Rolls Royce
e General Eletrics

Não é todo dia que a minha vida é surreal

Saravá Buenos Aires,
finalmente estoy de vacaciones!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Buenos Aires 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

Crucero del Norte

Dentro da infinitésima clausura deste ônibus
há espaço de sobra para eu contemplar
todas as retas e curvas da minha vida.


Eu olho fixamente através da janela
(tentando enganar o tédio que me assombra nesta viagem)
e com o passar das paisagens
passam-se cenas dos amores que eu tive.


Meu Deus, como tenho amado nesta vida!


Mas essas cenas já se foram
e como o sol que se esconde atrás do horizonte da Argentina
restou apenas minha dor
pincelada pelo céu em versos laranjados
tristes como um pôr-do-sol de inverno
(que anuncia que a noite fria está por vir)


Esta estrada é longa
e esta viagem demorada


Mas com o passar dos anos nesta vida
tenho tido a mais linda epifania:
depois de uma longa noite escura
há de vir um novo dia!



- Bartolomeu Parreira Nascimento - Argentina 2010
(Nota: escrito num ônibus do Crucero del Norte na viagem de Puerto Iguazu até Buenos Aires)

Rodoviária de Foz do Iguaçu (multidão em trânsito)

Que estranho este prazer inesperado
de ver a multidão em trânsito


Tanta gente diferente,
tantas cores e formatos dos olhos.


Tantas sonoridades distintas
pronunciadas pelas línguas viajantes.


Tantos destinos distintos.


Alguns tem as malas cheias de mercadorias
(é preciso ganhar dinheiro)
Outros tem as malas cheias de recordações
(é preciso matar a saudade)


Mas eu
na minha mala velha e rasgada
carrego apenas algumas roupas desbotadas
um par de havaianas
e um livro de Fernando Pessoa
(e é claro um caderno para escrever porcamente versos toscos)


Eu me sinto confortável
no meio dessa multidão em trânsito


é quase como se fosse um estado de transe
porque eu sou anônimo
e ninguém conhece os meus defeitos


E hoje à noite quase todos irao ao encontro de seus destinos


Alguns aparentemente alegres
e outros parecem viajar com dor no coração


mas eu
não estou nem feliz
nem triste


sinto apenas um estanho e inesperado prazer
de ver a multidão em trânsito


Porque no fundo da minha alma nômade eu sei
que não sou de lugar algum
e sim de todos os lugares


e ao ver tanta gente diferente
indo para os mais diversos destinos
eu me sinto em casa com meu povo:
os viajantes loucos e perdidos deste mundo.


- Bartolomeu Parreira Nascimento - Foz do Iguaçu 2010

Mal humor

Eu não sei porque sinto toda esta raiva
não sei explicá-la.

Talvez seja mágoa
talvez seja culpa desta dor

FODA-SE!

Hoje eu não tô p'ra brincadeira
Hoje eu não sou aquele cara alegre

Não quero sorrir
nem fingir ser idiota por mais um dia

Não venha me falar de amor
nem de política

Aliás,
não fale nada se quiser me ver feliz

Pague umas doses de Ypioca
e me arranje aquele belo salve sem amoníaco

Hoje é a condição exímia
do meu sorriso falso e desbotado

Amanhã
há de passar toda esta dor
e "se deus quiser"
há de melhorar também o meu humor

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Sinto teus olhos me olhando

Eu não te vejo
mas sinto teus olhos me olhando...
è uma sensaçao estranha.

Eu tenho medo de olhar
porque estou à beira da paixão...
e você é proibida.

...entao tento não olhar para não correr o risco de me apaixonar
de ficar mais uma vez perdido loucamente
e profundamente ferido

Na verdade
a felicidade para mim é proibida
(mas com você eu sei que seria feliz)

Tenho ficado tímido perto de ti
sem-jeito
porque à cada dia aumenta meu desejo de te beijar
de acordar do teu lado
de te fazer sorrir

Ando me sentido um tanto perdido
...viajo no meu pensamento
e quando vejo
estou pensando em ti!

"Adoro o jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto"
(como escrevi em outro poema)

Estou confuso
e nao sei se é apenas mais uma coisa a minha cabeça
mas me sinto diferente
porque eu sempre amei mulheres loucas na minha vida

Mas você...
é tão menina
e ao mesmo tempo
tão lúcida


O problema é que eu sou louco
e quem é louco
há de amar loucamente
...e você eu não posso amar

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

O jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto

Adoro o jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto quando você lê um texto
E o jeito que você balança teu pé quando fica nervosa
Só você consegue transformar uma aula longa e intolerável
Numa experiência linda e prazerosa

Me desculpe pelos momentos em que eu fico te admirando
É uma coisa que eu não consigo evitar
Sou louco pelo teu sorriso irradiante
E apaixonado pelo teu jeito macio de falar

Adoro quando nossos olhos se encontram
As vezes sem querer, as vezes intencional
A tua alegria contagiante me encanta
E meu coração dispara quando te encontro num sarau

Vivo louco de desejo para sentir o gosto dos teus lábios
Mas morro de timidez quando você está presente
E por causa dessa adolescente e boba timidez
Nosso beijo ainda é uma dìvida pendente

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

(Nota: poema escrito alguns meses atrás para uma mulher que jà nao cativa mais meu coração)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Páginas brancas

Não consigo ver páginas brancas,
preciso escrever nelas

É uma angústia que sempre me acompanha,
porque há algo profundamente perturbador
na monotonia da folha vazia

Um tédio desesperadamente doloroso

...uma distância incalculável entre o que sinto
e o mundo externo

e é na tentativa de encurtar essa distância
(cuja plenitude é inatingível)
que eu sacio a minha angústia
e mancho com a minha dor
a vil pureza suja
da folha branca e vazia

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Poema à um camarada da Vanguarda Iluminada

Camarada,
que pena que fostes cooptado pela malevolência partidária

Tinhas no teu sangue a chama ardente da revolução
que se corroeu no triste reformismo vanguardista

Quanto autoritarismo mascarado!

Tua ânsia por justiça apodreceu
e tua sede de liberdade
se transformou em fome de poder

Que pena!

Te convenceram que só o mínimo é possível
e que os sonhos são pequenos e utópicos

Te ensinaram à obedecer
à vomitar cegamente frases prontas

Que pena que achas que o poder deve pertencer à poucos
e que teus dogmas doutrinários
são verdades absolutas

A centralização não é libertadora,
e não se muda o mundo
com duas bandeiras vermelhas
e meia-dúzia de panfletos

Uma vanguarda de elite
só serve para ser elite
e mandar em nome do proletariado

Enquanto nossa única escolha
seja escolher quem vai escolher por nós...
o mundo será uma merda!

O caminho para a emancipação humana
é claramente horizontal

....pena que você não enxergue isso, camarada

Mas lembre-se que você tem o livre arbítrio
e não precisa sempre obedecer a hierarquia

Ainda há tempo para mudar
e coragem para não obedecer

...não tenha dúvida disso, camarada.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Frustração

Deve haver algum sentido maior para esta vida
mas eu não consigo achá-lo

Eu sinto que nasci com um propósito
e tenho medo de não conseguir cumpri-lo
de viver minha vida em vão

Não consigo aceitar
que minha existência seja tão pequena

Tenho mágoa das minhas mágoas
raiva da minha dor
...pena do meu ego

Quero viver mais
do que é possível
viver
nesta
vida

As vezes penso que não tenho feito o suficiente
para que meus 24 anos tenha valido a pena

e nos anos que me restam
não sei como posso viver
mais do que posso viver

Uma
vida

não
me
basta

...e não sei se mil vidas bastariam!

Não há paz em todo o mundo
que acalme a frustração
de querer viver
mais do que é possível viver

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ego

Eu não sei se quer me livrar do ego
esse caminho é longo
e encontro só resistência
barreiras
barricadas

Eu não sei
se quero
nem se posso

porque para conseguir essa conquista
e me livrar dos meus erros toscos
eu preciso me livrar do orgulho de todas minhas conquistas anteriores

...e disso não sei se posso abrir mão

Sou muito orgulhoso
e teimoso demais

... talvez sejam meus maiores defeitos

Apesar de tantos erros
tenho feito muitas coisas boas nesta vida
e são dessas coisas
(e não dos meus defeitos)
que eu me orgulho


Não sei posso me desprender do meu ego
porque não sei quem sou debaixo dessa construção...

pode ser uma nascente
ou um cemitério

Debaixo dessa máscara pode estar minha alma

e tenho medo disso
de vê-la nua

...eu posso não gostar!

É o ego
que fere a alma

a obsessão desmedida com tudo o que é mundano
o desejo violento de satisfazer nossa vaidade
(nossa mais externa personalidade)
a compulsão por estar sempre na defensiva
o medo terrivel de ser menos que os outros


É o ego que fere a alma
as coisas pequenas apenas ferem nosso ego

Nos orgulhamos dele
nos sentimos grandes

quando na verdade o ego limita nossa existência
e nos reduz à pequenisse

O ego é o pai de nossa arrogância
...mas esta vida há de transformá-la em humildade


Eu não sei se posso me livrar do meu ego
sou arrogante demais
e penso que sei mais do que sei

Tenho andado um tanto de cabeça erguida
mas me desespera a agonia de não saber
se eu tenho a grandeza de uma alma
ou se sou apenas a mediocridade do meu ego

Confesso que minha existência me aflige
e à cada dia me sinto menor perante a vastidão do universo

mas algo dentro de mim me da esperança
e eu sou grato
mesmo que seja apenas um breve sonho de liberdade

A verdade é que eu quero me libertar de tudo o que me faz mal
(inclusive de parte de mim mesmo)

...mas a adversidade deste caminho me parece tão dolorosa
e tenho medo que esta angustiante busca teleológica da minha alma
(e por minha alma)
desemboque numa mera estupidez mateológica

É tão grande o universo
e tão pequena minha existência!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Me lembrar do sonho...

Me lembrar do sonho
é meu desejo de toda noite

Meu sonhos
são como se fossem uma vida paralela

(O fantástico mundo onírico do meu sono
o adormecimento da minha personalidade exterior
e o consequente despertar do meu subconsciente...
são as dádivas noturnas desta vida)

Quero me lembrar para contemplar desperto

porque na verdade é esta vida que parece um sonho

e eu desejo
(com toda a plenitude da minha alma)
saber o que é verdade


Meu peito cético carrega a angústia de todas as religiões

eu não quero acreditar
que esta vida seja tudo

mas eu também não quero ter uma explicação pronta
não quero ter um dogma
não quero defender uma mentira

quero apenas sonhar
e me lembrar dos meus sonhos

assim eu posso contemplar desperto

o que é vida

e o que é sonho

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Metade Blues

Meu amor
se você olhar dentro de mim
você vai ver que metade é puro Blues

pois é
fiz um acordo com o capeta
quando o encontrei numa encruzilhada
indo pro sarau na meia-noite

ele me disse:
"senti tua dor de longe
e se você quiser
eu posso te ajudar

eu quero metade da tua alma
é o preço que eu peço para te livrar
de metade da tua dor"

Nem duas vezes eu pensei...

selamos o acordo com uma dose de Ypioca

e hoje eu sofro menos
graças ao senhor vermelho
porque metade da minha alma é Blues
e (graças ao Capeta)

quando eu tomo Ypioca
se transforma em Rock 'n Roll

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

De uma forma tão delicada...

De uma forma tão delicada
você atravessou o oceano das minhas mágoas
e sem eu perceber
chegou na porta do meu coração

mas eu não sei se posso abrir
e te mostrar o inverno da minha alma

é frio demais
e você
tão delicada

Teus olhos são cheios de amor
de ternura

e eu ainda carrego tanta mágoa

Minha vida é uma ferida aberta
e se eu deixar você entrar
você se machucar

mas aqui fora o inverno já passou
...e eu quero tanto viver a primavera da minha alma

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Pequena epifania matinal

Hoje eu acordei feliz
porque me dei conta que você não machuca mais meu coração
...apenas fere o meu ego

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A matéria podre

Eu olhei no espelho
e encontrei uma multidão de metáforas indiretas

reconheci minha crueldade
pois minha alma se fragmentou
em mil contradições

e eu
sou apenas um reflexo
dos aspectos mais sombrios da mente humana...

me perdi no carnaval lúgubre das minhas decepções

A falta de luz
assim como seu excesso
...nos cegam


Nesse longo caminho
encontrei a glaucoma dos meus olhos

a hipertrofia do meu coração

e já me cancei de tantas metáforas indiretas
de não poder dizer o que sinto
por medo de machucar

A razão, coitada, me condena
e a metafísica não me convence

só me consolo em saber que eu sou sujeito da minha própria existência imunda

e o mundo material
que sujeita nossa existência
pode ser mudado por nossa matéria

Me dei conta que a miséria do mundo
é um reflexo
da miséria do intelecto humano

...e eu não sou menos culpado

sou podre como o mundo

e corrupto como toda a humanidade


O egoísmo de nosso ser
é de longe o maior de nossos defeitos

e nos transformamos em mesquinhos seres repugnantes...

Coitado o mundo
e nós
que mudamos tanto
mas no fim
permanecemos iguais

...mas ainda há esperança em saber
que a matéria podre
quando enterrada
vira adubo
e permite florecer

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Bar Manhattan

Eu vejo tanta vida lá fora
e aqui dentro
tanta solidão

então eu saio
vou pro Manhattan
tomo umas brejas geladas
(passo no cartão)

eu sorrio
jogo sinuca
discuto política, futebol, ufologia
e religião

eu vou na esquina
...volto relaxado
torço para o Flu ser campeão!

as vezes solto um chaveco
as vezes rola uma paquera
e outras vezes não

mas sempre encontro meus amigos
(alguns deles perdidos)
pois é o bar que todos vão

quinta-feira ta lotado
(e o Marcão mal-humorado)
pois na UEM é dia de chapação

e depois de muitas doses
chega a hora de ir embora
acaba-se a ilusão
e eu volto para minha solidão

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Pequena contemplação sobre o tempo

O que é o tempo à não ser uma fonte inesgotável
que um dia se esgota?

É como uma árvore que morre
e em seu lugar outra brota

É como a esperança da vitória
perante a possibilidade da derrota


É como as cores e a luz
que um dia deixaremos de ver

mas que outros olhos, menos cansados
continuarão à perceber

É o intervalo em que chamamos de viver!


O tempo, cruelmente
é a medida da existência

É o verdadeiro profeta
por excelência

que rege o crescimento
assim como rege a decadência


O tempo é o único que nos revela a verdade

que inevitavelmente muda a realidade

É o tempo
que nos arrasta para a velha idade


Com o tempo, destruimos a ilusão

Superamos até a dor de uma paixão

...o tempo nos ensina à ter perdão


O tempo, que enterra os sonhos de amantes

que nega tudo o que era antes

também perdoa os loucos e errantes


O tempo, que destrói nossa inocência

nos obriga à ter paciência

e expande os muros de nossa consciência


As vezes ele é rápido em passar

e outros vezes ele parece demorar

mas nunca há de falhar!


Pois o tempo é firme e constante

uma infinitude extravagante

O tempo
é um suspiro ofegante


e nós, somos condenados em sua prisão

à constante preocupação

de viver intensamente
para não morrer em vão


E independente da tua sorte

(por mais que você seja forte)

o tempo, inevitavelmente, será o mensageiro da tua morte!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Soneto do Sarau

Ninguém sabia se haveria sarau,
O boato espalhou-se de repente.
E foi pelo bem, ou pelo mal,
Que à cada um chegava diferente.

Alguns diziam que era de Economia,
E outros diziam que era de Sociais.
Alguns juraram amor à boemia
E outros prometeram bacanais!

No Manhattan os bêbados bebiam,
E os copos até faltavam!
As mulheres lindas sorriam

E os bêbados pagavam,
Porque toda quinta-feira,
A solidão, não há quem queira!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aurélio

Segundo o dicionário Aurélio
a tristeza é o aspecto revelador
da mágoa
ou aflição

já mágoa...
é desgosto
amargura

(dó
lástima
pena)

Segundo o Aurélio
dor é sofrimento moral
é mágoa
pesar
aflição

e feliz
é o que denota
ou em que há alegria
satisfação
contentamento
ventura

Mas o que sabe o Aurélio sobre essas coisas?

Eu só sei que a mágoa
e a dor
são como vampiros

e a felicidade é tão rara

Segundo o Aurélio
o amor
é o sentimento de dedicação absoluta de um ser
à outro ser
ou à alguma coisa

Já eu
(na minha ignorância)
sei o que o amor é indescritível

e se há algo que eu sei com certeza
é que o amor é dor
e quase sempre vira mágoa

O que eu seu
(e que o Aurélio não sabe)
é que o amor é um vampiro
e a felicidade
com certeza
não é uma fonte inesgotável

....e que a minha própria subjetividade não se expressa num simples verbete

(o Aurélio não é um poeta)

São necessárias muitas noites sem sono
(e muitas horas solitárias)
para expulsar os sentimentos do meu peito
(e contê-los em versos inteligíveis)

...não é o mais fácil dos ofícios

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

A vergonha do meu próprio egoísmo

Eu chorei
porque estava aqui sentado sozinho
fumando meu cigarro raivosamente
lamentando minhas mágoas de amor

quando num documentário
eu vi toda a força do povo
vi a injustiça deste mundo

e me senti tão fraco
tive vergonha do meu próprio egoísmo

O vazio que há dentro de mim
esta angústia
esta dor

é tão insignificante comparado com toda a dor que há no mundo

Eu me senti triste
por saber que me sinto triste
quando na verdade eu estou bem

e enquanto assistia o documentário
para me distrair da tristeza
que uma mulher me deixou
eu vi uma mulher chorar
pela dor que nunca vai lhe abandonar
da tristeza que o assassinato de seu filho lhe deixou

me senti vil e impotente
e o nojo que senti do mundo
também senti de mim mesmo

tive vergonha do meu próprio egoísmo
porque enquanto já me chamei de militante...

o que eu mais busco
não é mudar o mundo

é o prazer
a euforia

é sentir-me bem

Tantas madrugadas de festa
e tardes de ressaca...

no fim de tudo me sinto culpado
por não dedicar-me integralmente
à causa da revolução

por não ser um mártir

Pois é
acontece que perante as coisas boas do mundo...
mulheres
festas
(boemia)

eu sou fraco

e enquanto eu aproveito minha juventude
minha vida de estudante...

as velhas tragédias se repetem

(no mundo real
o coro continua à comer)

Pois é
eu tenho vergonha disso

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringa 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Diário 26/02/07

....when it hurts inside,
I'm not sure if it's because I lost you
or because I lost a part of myself.

Something was lost,
and I'm afraid that I'll never feel the same again.

Time has passed,
my love,

but a part of me has remained smiling in your arms...

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 26/02/07

Poema para os amigos verdadeiros

Porque chorar por amor
quando a amizade é tão bela?

Todos os meus grandes amores se foram
mas meus melhores amigos continuam do meu lado,
mesmo que estejam a milhares de quilômetros de distância

Meus amigos verdadeiros...
são verdadeiros

Meus amigos,
quando olham na "bolinha do meu olho"
(como diz um grande amigo meu)
não vêem só um bêbado
um louco
um militante

...o cara que num momentos de loucura quebrou o vidro do R.U.

Meus amigos verdadeiros
quando olham na "bolinha do meu olho"
enxergam o ser humano que sou
com todos meus defeitos

entendem que eu erro tanto
mesmo que quase sempre procure fazer o melhor que posso
o mais correto

Sou cheio de limitações
eu sei...

mas meus amigos verdadeiros sabem que eu carrego uma dor profunda no meu peito

eu não sou um cara simples
eu sei disso
dentro de mim é tudo complicado e confuso

mas para meus amigos verdadeiros
minhas poucas virtudes valem mais do que meus tantos erros
(que não são poucos)

Meus amigos verdadeiros
(com exceção da minha família)
são os únicos que acreditam no meu potencial para ser uma pessoa melhor
(e na minha vontade de mudar os meus defeitos)

são os únicos que sabem que eu defendo meus ideais com sinceridade
(e não por vaidade intelectual ou pela estética do discurso)


Eu tenho sofrido muitas mágoas de amor nesta vida
(não foram poucas)

e passei por períodos difíceis
(que prefiro nem comentar)

Mas eu tenho sido abençoado nesta vida
(seja por sorte
karma
ou por destino)
de ter algumas das amizades mais sinceras deste mundo

porque meus amigos verdadeiros
(que são poucos)
são verdadeiros!

Muitas vezes eu tenho sido cego com as mulheres que me cativaram...
a paixão tende à fazer isso
(ainda mais com quem é sonhador, fraco e utópico)

mas com meus amigos
(aquele pequeno punhado de irmãos)
eu consigo enxergar com clareza

Apesar de tudo
eu não sou bobo
(mesmo que muitas vezes eu pareça ser idiota)

...eu sei separar o joio do trigo...

e não tenho o mínimo medo de tesourar quem não é verdadeiro
quem é pilantra

Com o passar dos anos tenho aprendido à ser sincero comigo mesmo
mesmo que muitas muitas vezes eu esteja errado
ou seja levado por impulso

Hoje em dia
("graças a deus")
eu sei reconhecer as pessoas boas que eu quero na minha vida

Aprendi à dar valor à quem merece
(e recusar quem me faz mal)


Colegas são colegas
mas meus amigos verdadeiros
são irmãos

Obrigado
pelo carinho
pela amizade
pela sinceridade
por enxergarem um ser humano em mim

isso significa muito para mim
muitos mais do que as palavras podem expressar

Obrigado!

Vocês são verdadeiros
e isso é tão raro na vida

Vocês podem sempre contar comigo

...eu posso ser um inimigo escroto
mas tento ser um bom amigo...

espero sempre ser sincero com vocês
porque apesar dos meus muitos defeitos
é com vocês que eu mais aprendo

Nem o pior dos ventos
desmancha os pilares mais fortes

(obrigado por tantas vezes serem meu refúgio)

e nem o tempo
(que destrói até os amores mais intensos)
é capaz de destruir as amizades mais sinceras

Eu não sei o que será da minha vida
(espero sempre aprender)

não sei se um dia vou encontrar um amor para toda minha vida

mas eu sei
(assim como sei que o céu é azul)
que amizades de vocês
eu quero levar por toda minha vida.

Vocês são foda!

obrigado por serem verdadeiros

obrigado por estarem do meu lado
(mesmo quando estive errado
e parecia que o mundo inteiro
estava contra mim)

Não consigo encontrar as palavras para expressar minha gratidão

então digo apenas obrigado

muito obrigado!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Hipertrofia Cardíaca

Meu peito dói
(mas não de amor)

Me sinto ofegante

...sei que estou morrendo
mas não quero!

A verdade é que tenho um grande coração
que à cada dia fica maior

Só que enquanto meu coração cresce...
diminui a minha vida.

Eu espero que não
mas talvez um dia dirão:

"se foi
como o vento
que ele tanto falava

e sem poder falar como o vento
sem ter mais tempo...
nos deixou tudo o que tinha:

saudade"

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Não é o fim do mundo

Tenha calma
você vai se encontrar

eu sei que tua ansiedade é dolorosa
e que tua tristeza é profunda...
mas lembre-se que não é o fim do mundo!

outros já sofreram muito mais
viveram tragédias piores
e mais dolorosas que as tuas
mas muitos se reergueram
encontraram as forças para seguir adiante
e por mais incrível que pareça
encontraram a paz
e a felicidade

Eu sei que tua dor é sincera
eu sei

não é da boca p'ra fora
pode ser que minha poesia seja clichê
que seja repetitiva
infantil
(até brega)
mas é sincera

Eu
que pareço sempre carregar um sorriso
que vivo vários romances passageiros
que carrego a boemia na minha alma
que sou seguro da minha abilidade com a palavra
e que pareço tão arrogante na minha forma de ser...
já tentei me matar duas vezes

Pois é
nem tudo é o que parece,
camarada

A vida não é facil
eu entendo a tua dor
não é da boca p'ra fora
não quero te enganar
nem te consolar

Você é lúcido
é sábio
mesmo que esteja um pouco cego

Eu conheço essa tristeza

acredite em mim
quando eu digo
que eu sei

O que você sente eu já senti
e sentirei muito ainda nesta vida

Eu entendo...
dói demais

Mesmo que as feridas de cada um sejam diferentes

dor é dor
e dói

dói demais

Mas lembre-se que outros já sentiram essa dor intensa

O sofrimento faz parte da condição humana
nos permite crescer

Parece até sacanagem que o amor
que é a coisa mais preciosa desta vida
também é a maior causa de nosso sofrimento

A tua sede de amor
teu desejo de ser amado
essa saudade intolerável
e o imenso peso dos teus erros...
fazem parte da condição humana

Tenha calma
você vai se encontrar

Dentro de você existe toda a força necessária
(mesmo que esteja adormecida)
para sarar as tuas feridas

...nos teus bons momentos você sabe disso

mas os bons momentos parecem passar rápido
e tua dor parece não ter fim

Não é facil
eu sei

mas é a vida

e estamos aqui para viver
faz parte da condição humana

Você sofre porque você ama demais
e é por isso que dói tanto


eu sei

Mas você pode ser feliz...
não é o fim do mundo!

Eu sei que está tudo errado

entendo o desejo
de começar tudo do zero

mas é vivendo que se aprende
e os que sofrem
são os que mais conseguem crescer

A vida é preciosa
e você é forte
então viva tua vida
e tente ser uma pessoa melhor

(você é capaz de muito mais do que pensa)

Procure a felicidade...
você vai achá-la!

Enfrente a tua dor
(só assim se saram as feridas)
mas não se alimente dela

Quem se alimenta de dor
se afasta da felicidade

Não aceite a derrota
eu sei que você merece mais que isso

Você sofre porque você está vivo
e é só na vida que aprendemos

mas a vida não precisa ser assim

Poucas coisas no mundo estão sob o nosso controle
mas somos sujeitos de nossa própria existência

sozinhos não temos a força para mudar o mundo
mas podemos navegar firmemente o mar de nossos sentimentos

Não é facil camarada

eu sei...

mas é a vida!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lamento confuso de um louco perdido

O sorriso dela foi um furacão que passou por minha alma

Destruiu tudo o que encontrou pelo caminho
e deixou apenas mágoa

Esse sorriso
que quase foi tudo
que foi tão meigo
foi desmanchado violentamente pelo vento desmedido desse furacão

o que eu achava tão puro
hoje me parece tão vulgar

Sei lá...
eu não quero mais nenhuma mulher vagabunda na minha vida

Não é moralismo
que elas façam o que queiram
elas tem o direito
mas não o direito de fazer o que querem comigo

Eu acho que talvez eu mereça mais

Já amei muito nesta vida
Tenho as mãos cansadas
de tantas carícias
de tantos poemas

e meus olhos?
nem falo das tragédias que já viram
e nem das lágrimas que já choraram

eles também estão cansados
Cansados demais

Já senti tanta paixão nesta vida
e houveram momentos em que compartilhei minha própria alma com algumas mulheres especiais
que foram poucas

já as que passaram na minha vida foram muitas
e nem todas merecem ser mencionadas

mas você...
foi a única que foi cruel

Talvez eu não mereça mais do que isso
porque afinal das contas
eu sou louco!
e também é louco quem não sabe disso

Os homens loucos
como eu
atraem mulheres loucas

é normal
faz parte da aritmética da vida

o problema é que eu não quero uma mulher louca

Eu quero uma mulher que me salve da loucura

mas de loucura
inteiramente
são feitas as loucas que me beijam

Mulheres loucas de noites loucas
da esquina do Manhattan
do último e do próximo sarau

mulheres loucas que são como figurantes na noturna paisagem etílica de Maringá
mas apenas figurantes

Mulheres loucas
que como todos os loucos
na verdade são tristes por dentro

e eu não quero mais essa tristeza

Quero a vida sadia que só a felicidade traz
mas sou preso à minha própria loucura
e se eu pareço livre
na verdade possuo apenas a liberdade restrita de uma profunda solidão

é que eu procuro as coisas certas nos lugares errados
procuro a salvação na boemia
mas só encontro mulheres loucas
e a perdição

Eu reclamo
mas não delas

na verdade eu reclamo de mim mesmo

pois é...

eu sei que sou canalha
que sou safado
louco
eu sei que eu não presto

mas há momentos em que eu sou só amor
e talvez seja carência
mas eu preciso demonstrar o amor que quero
preciso que saibam do meu jeito de amar
com toda sua intensidade
na esperança que eu seja amado assim também

ou talvez é pior do que isso
pode ser que eu preciso constantemente reafirmar que eu ainda posso amar...
porque eu já não tenho mais tanta certeza

ou talvez seja apenas nostalgia
daquele grande amor que tive
e que já se foi

saudade daquela mulher linda
que me aqueceu nas noites frias de Curitiba

aquela mulher que foi minha vida
que é inesquecível
e que hoje vê o sol nascer
enquanto eu o vejo morrer

Dela eu não guardo nenhuma mágoa
não há como

sinto apenas uma saudade imensa
e um carinho profundo

Foi ao perdê-la
para nossa própria juventude
que a boemia virou minha companheira inseparável

foi preciso ignorar o grande vazio que se instaurou no meu peito
já que não foi possível preenchê-lo

Eu sou louco
mas sei disso
e as vezes tento inutilmente me justificar

Meu lamento é confuso
é em vão

porque a verdade triste
é que eu não sei o que procuro
e muitos menos como achá-lo

Talvez o que eu procuro está em mim mesmo
e não há nada mais aterrorizante do que olhar para dentro
não há nada mais confuso do que a agonia da ansiedade

nem mesmo este lamento é mais confuso

e eu lamento mesmo
lamentar
sem saber o que lamentar

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estranha Paz

Estranha paz que vem à alma
arde, como se fosse fome
e é passageira como o vento

Estranha paz que é como se fosse um pressentimento de algo ruim
uma predestinação
mas na verdade é apenas incerteza

Estranha paz que em vez de acalmar
me tira o sossego
e será inevitavelmente levada na impiedosa correnteza da ansiedade

é apenas um estado de ser
humilde em sua simplicidade
embora complexo em sua anatomia

No fundo é um vazio
é o cansaço que precede a contemplação
é a saudade de mim mesmo
talvez a crise do meu ego

Estranha paz que na verdade é agonia
e que se esconde sob a máscara do tédio

É como o desejo
de lembrar de um desejo esquecido

A breve ausência da minha alma
talvez o desejo de estar em casa

Estranha paz que me faz estranhar a mim mesmo
que me faz sentir esquisito
e sentir angústia

É um momento solitário
mas sem solidão
apenas acompanhado do vazio
e de uma grande inquietação

É um momento necessário
mesmo que eu seja ingrato
É um momento cálido
mesmo que o sinta frio

É um momento inexplicável
em que eu reconheço este vazio
e busco as forças para contemplar o que vai preenchê-lo

É um momento em que eu estou ausente
um momento
que acaba de repente

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

As mulheres tímidas

É preciso tomar cuidado com as mulheres tímidas!

Não há como saber quais segredos se escondem atrás de sua timidez

pode ser puro amor
ternura
ou malícia sem fim

Elas nos cativam facilmente
nos envolvem em seus mistérios

mistérios que eu preciso decifrar

O que ela esconde atrás dessa timidez
pode ser minha vida
minha alma
talvez felicidade

As mulheres tímidas
ao contrário do que se pensa
tendem à ter personalidades fortes

...e eu adoro mulheres que se zangam comigo
nunca admirei mulheres submissas

As mulheres tímidas são as mais interessantes
pois, ao contrário das escandalosas
que carregam a máscara do ego à flor da pele
é preciso conhecer bem uma mulher tímida para saber quem ela é

e isso sempre acontece aos poucos
o que me mantém sempre interessado
sempre sedento para descobrir mais um dos segredos
que repousa em seu sorriso

A verdade é que as mulheres tímidas cativam nossa imaginação
e talvez por isso as vezes projetamos nelas nossos desejos
nossas fantasias
nossas ilusões

As transformamos em potenciais mulheres ideais
papel que injustamente esperamos que elas cumpram
e que poucas podem cumprir

Lembre-se que sempre é preciso tomar cuidado com as mulheres tímidas
uma delas pode ser tua vida!

As vezes é preciso um pouco de iniciativa
para que a mulher tímida
seja um dia íntima

caso contrário,
a timidez que encanta
pode transformar-se em barreira
e permanecer distância

O problema é que a timidez é contagiante
e perante as mulheres tímidas nos sentimos sem-jeito
viramos adolescentes
crianças

Diante delas é preciso ser sincero

Não há um homem neste mundo
que diante de uma mulher tímida
não tenha caído aos seus pés

Elas são tímidas
mas são poderosas

É que na verdade sua timidez é apenas precaução

elas não são burras!

Enquanto passamos noites sonâmbulas
nos debruçando compulsivamente sobre seus mistérios
elas já sabem tudo sobre nós

então tenha cuidado
e nunca se esqueça
que uma mulher tímida...
pode ser a tua vida!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Depois do Pôr-do-sol

I

O som do vento chacoalhando as folhas lava minha alma

Não sei porque me sinto tão em paz

Eu adoro este horário
quando o sol já se foi
mas a claridade ainda nos acompanha

As luzes se ascendem para anunciar que a noite está por vir

e sem saber porque
uma súbita paz me acalma
e me sinto cheio de esperança

Neste horário
quando o dia solta seu último suspiro
e a noite ainda não nasceu
a profunda ansiedade de viver minha vida intensamente me abandona

e por um instante
eu posso descansar minha alma
e me sentir em paz


II

O céu ganha cada vez mais profundidade
e as luzes parecem brilhar mais

Eu sei que está paz se irá
mas ainda me sinto sereno

Hoje à noite
ou descanso minha alma
ou mato o meu tédio

O frio não não me dá opção.


- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Auriverde

Eu
que sempre fui nômade deste mundo
e passei quase quinze anos entre as praias da Florida
e as montanhas de Mendoza

também sempre carreguei no meu peito esta brasileiríssima essência auriverde

o sal de Praia Brava, onde nasci
em Angra dos Reis
esconderijo das mais belas ilhas fluminenses

a terra roxa do Paraná,
onde vivi meus maiores amores
e encontrei meus melhores amigos

tantas vezes minha alma canta os lamentos de Cartola
e tem a voz rouca de Adoniran

tem noites noites escuras como Augusto dos Anjos
e outras boêmias como as do poetinha
iluminadas pela lua do grande Vinícius

tem dias quentes como Ubatuba,
último reduto da minha adolescência

Carrego esta inesgotável essência auriverde comigo

ando pelas ruas de havaianas
e prefiro os traços simples de Niemeyer
às catedrais carregadas do velho mundo

prefiro mil vezes arroz com feijão
do que arrogância do caviar

gosto do tomar guaraná
e comer uma coxinha
com molho de pimenta Malagueta,

picante como as nossas mulheres

Eu sempre fui nômade deste mundo
mas também sempre amei o meu país

O carrego tatuado na minha perna
porque eu sei quem sou

eu sou brasileiro!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Leitura de Antropologia

A Antropologia...
me canso de estudar!

Simbólico?

Quero perder-me nas significações do calor dos teu lábios macios.

Quero debruçar-me sob a estrutura do teu corpo
e estudar todos os teus rituais de amor.

Quero fazer uma pesquisa participante de tudo o que te faz feliz.

Teu sorriso é minha tese!

Agora me cale, já falei demais!

Deixe que o silêncio do meu beijo explique tudo aquilo que não sei como explicar neste papel.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A drop of rain

In the presence of your beauty
I'm a drop of rain inside the ocean

At the sweet murmur of your breath
I'm melted ice returning to the clouds

When you speak
you leave me shapeless
Vulnerable to whatever form you wish of me

When you look firmly in my eyes
I tremble

You leave me without air to breathe

When our tongues meet
and you taste my lips
I know that I've died and gone to the eternal paradise

and I couldn't picture heaven any sweeter than waking up tangled in your arms

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Miami 2002

(Nota: poema escrito para um antigo amor quando tinha 16 anos e morava em Miami)

Poema Esquecido

Eu tive a sensação de ter o poema mais lindo do mundo na ponta da minha língua...

mas ele se foi


À medida que as palavras apareciam na minha cabeça
aumentava o meu desespero


febre
mal-estar
vertigem
sensação de enjoo


Quando tentei recuperar as suas palavras
o poema desapareceu
como se fosse um feitiço


Agora eu não sou mais o mesmo


Em tudo o que escrevo carrego a saudade daquele poema perdido
a esperança de um dia lembrar
a frustração de não conseguir


Aquele poema teria mudado minha vida
e talvez teria mudado a tua também


Ouso dizer ainda que aquele poema poderia ter mudado o mundo!


Mas eu me esqueci

e ao me esquecer
fui eu
e não o mundo
que mudou



O mundo permanece o mesmo
ri dos poetas
banaliza o amor
(essa palavra tão banal)


Castiga o versos de Neruda
as prosas de Baudelaire
os sonetos de Vinícius


Mas eu não sou mais o mesmo
e fico me indagando:

Será que esses poetas também tiveram um poema transcendente na ponta da língua
e também se esqueceram?

Será que a obra deles não foi em busca de um poema perdido?

Será a minha vida assim?

Eu não sei
e quero mais que tudo neste mundo me lembrar daquele poema

Mas eu não me lembro
e talvez nunca me lembrarei

mas eu sei
que aquele poema
esquecido e perdido
que poderia ter mudado o mundo

acabou mudando

o
meu
mais
profundo
ser

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O mundo inteiro para conhecer

Há tantas coisas que eu não sei como explicar
Por exemplo, como cabe tanta ternura no teu olhar
Ou a louca sensação que sinto ao te beijar

As coisas pelas quais eu tenho alguma explicação
Já não interessam mais à chaga do meu coração
Sou fascinado pelo mistério de tudo o que foge da razão

Não quero racionalizar tudo o que há no mundo
Quero apenas viver minha vida do jeito mais profundo
Seja como trabalhador, seja como vagabundo

Quero viver todos os meus dias no embalo
Sempre carregar algo de poesia em tudo o que falo
Viver o amor, e não tentar decifrá-lo

Mas enfim, o que eu quero mesmo é viver
E deliciar-me neste irrestrito e súbito prazer
De saber que eu tenho o mundo inteiro para conhecer

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Minha matilha

O meu amor
não querendo mais ser amor
transformou-se em mágoa

Descobri que é mais fácil assim
sentir um mínimo de raiva

Não há como não sentir nada

Eu sei

Então tento ser o pastor dos meus sentimentos
mas o meu rebanho é uma matilha

Subversiva
Não aceita minha autoridade
Não aceita ser perdoada
nem estende o seu perdão

É como água suja

Um calor em que eu não consigo respirar
Um frio em que eu não quero viver

Onde eu vou meus lobos me acompanham
se alimentam da minha carne
lambem minhas feridas

Bebem minhas lágrimas

Cada tanto um deles foge do meu peito
mancha com seu sangue a monotonia do papel

e agonizando

morre em tristes versos fadigados

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um Homem e uma Mulher

Uma mulher chora e um homem cai em mil pedaços

Desesperado, a beija e a segura entre seus braços

"Tudo ficará bem", o homem lhe promete

"Mas a vida sempre é triste", a mulher lhe adverte

O homem, sem saber o que fazer, começa à chorar

E a mulher, comovida, decide o abraçar

"Não chore, me perdoe", ela sussurra suavemente

E sua ternura sobre ele derramou-se de repente


- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Intimidade alegre...

Queria te escrever o poema mais lindo do mundo, mas o que sinto é tão puro e intenso que não consigo contê-lo em versos bem organizados. Não consigo conter tanto amor no meu peito, preciso derramá-lo para fora em palavras sinceras, e quando me faltam as palavras às vezes derramo algumas lágrimas. Mas essas lágrima não são de tristeza, minha linda. Tanto amor tem transformado a minha alma num oceano inteiro de felicidade, e às vezes essa felicidade foge dos meus olhos como cachoeiras. Os momentos que passo longe de você parecem intermináveis. Na solidão da tua ausência fico ansioso para voltar à roubar o gosto de paraíso dos teus lábios. Teu beijo me deixa louco, e na loucura dessa paixão me entrego inteiramente ao conforto de teu abraço. Você é tudo o que eu sempre quis, e os momentos em que estamos juntos se passam como um sonho. As vezes tenho medo de acordar e descobrir que eu apenas te sonhei, mas quando estamos juntos eu me sinto mais vivo que nunca. Eu tenho certeza absoluta de toda a beleza do mundo quando você me olha firmemente nos olhos e sorri. Me desculpe por todos meus pequenos erros e defeitos, sou louco por você, e quero ser um homem melhor à cada dia para fazer feliz.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2009

Intimidade triste...

Isto tudo tem gerado tanta dor em mim, e por vezes o retrospecto inteiro da minha vida tem parecido uma ferida aberta. A felicidade, tão rara, é como água e nos escapa pelos dedos. Mas a dor é como algemas, uma tortura lenta da qual dificilmente conseguimos fugir. E o amor, essa coisa desgraçada que todos procuramos, ora traz os momentos mais intensos de alegria, e ora traz a triste agonia de sofrer.

Peço perdão pela covardia de ser tão vil, pelo peso do egoísmo que minha alma carrega, mesmo sabendo que eu não posso ser perdoado. Já machuquei demais nesta vida, e qualquer esperança de ser realmente perdoado foi dilacerada junto com tantas ilusões. A felicidade é um labirinto, e no seu percurso sinuoso muitas vezes nos perdemos.

Eu estou preso aos meus erros constantes: não há perdão, não há cura, não mais o sonho de viver sem esta dor. Não tenho mais a ilusão de te fazer feliz. Já errei demais, e pouco me resta a não ser lembrar um doce e breve momento em que você quase foi minha para sempre. Se um dia eu te ajudei à crescer, à viver coisas novas, hoje em dia eu apenas freio a tua vida, restrinjo tua liberdade e te impeço de crescer.

Não tenho mais nenhuma carta na manga para te fazer feliz, apenas uma longa lista de erros e defeitos que quase todos os dias borram a maquiagem dos teus lindos olhos. Não sei mais o que fazer, e me rendo à impotência de saber que sou incurável. Não tem mais jeito. Vivi com muita intensidade os meus momentos de alegria, e agora só me restam dias de incerteza e a melancolia que a saudade do que já se foi sempre traz.

Eu te amo. Te amo tão desesperadamente que dói quando eu respiro. Meus olhos se enchem de lágrimas quando eu olho nos teus, porque tenho a certeza absoluta que quero morrer velhinho nos teus braços. Não consigo imaginar a vida sem você: fica tudo tão vazio.

Tão vazio.

Eu vivia apenas com a certeza que estaríamos juntos para sempre, com a certeza que você estaria sempre do meu lado.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2009

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dádiva do Esquecimento

Quem escarra contra o vento acaba por cuspir na própria cara,

E dessa mesma forma batalhei inutilmente contra o tempo que não pára.

O sangue escarrado ao atingir meu olho transformou-se em lágrima,

E nesse susto violento descobri que não há mais tempo para mágoa ou lástima.

Ser o passado é o destino súbito e inevitável do presente,

E enquanto aguardamos ansiosamente o futuro ele se transforma no agora de repente.

O tempo não é palpável, não consigo segurá-lo nem senti-lo com a minha mão,

E por isso a tentativa de ressuscitar um passado falecido é tão inutilmente em vão.

Assim como tantas rochas e montanhas são moldadas suavemente pelo vento,

O tempo, que nos fere e molda, também nos dá a dádiva do esquecimento.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Sad little Blues

I searched for you in all places, through land, air and sea.

Procurei desesperadamente, mas mesmo assim eu não te vi.

So I sat down on the dirty floor and wrote this sad little Blues

Inspirado na saudade do calor de nossos corpos nus.

I wish I could go back and relive all those good old days,

Mas não há como recuperar todos os momentos que o tempo desfez.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Soneto Náufrago

Hoje o tempo não está para velejar,
A intempérie do teu mar de mágoas está acentuada.
Hoje o dia não está para pensar,
Mas será inevitável pensar tanto na antiga amada.

Naufragarás no meio desse oceano,
E com muita sorte chegarás no litoral.
Te darás conta que não tens um grande plano
Para que a lembrança dela pare de fazer-te mal.

Tua dor se transformará em poesia.
Passarás ainda muito tempo magoado
E te esconderás na boemia.

Mas se você for muito abençoado
Hoje pode ser o grande dia
Em que você supera o teu passado.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Clichê

Ah Poeta, porque tanto desespero?

Na tua poesia há tanto exagero!

Não há razão para ser assim tão passional,

tanta paixão assim há de fazer-te mal!

Ah Poeta, tente ter mais calma,

tanto desespero há de roubar-te a alma!

Eu seu que tua alma foi ferida,

mas há muita felicidade ainda nesta vida!

Então tenha calma, te peço por favor,

um dia passarão todas tuas mágoas de amor!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010

Minha Pena

Quero matar o pouco de imortal que há em mim,
esta infinita recordação de teus carinhos.
Quero que abandones a escura privacidade dos meus sonhos,
para que a tua ausência não me acompanhe por todos os caminhos.

Quero conseguir pensar em tantas outras coisas,
e expulsar esta vil e puta dor do meu peito.
Quero sonhar muitos outros sonhos,
ou pelo menos um que não inclua o teu sorriso perfeito.

Quero me libertar desta suja e fria prisão
que tua recordação distante calorosamente me condena,
e preparar-me para a alegria que há de vir
quando finalmente eu cumprir esta cruel, longa e dolorosa pena.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Soneto para a galera da Filosofia

Quando eu finalmente encontrei
A galera da Filosofia,
Fui feito só de alegria
E foi no bar que me realizei.

Entre as cervejas e cachaças
E essas mulheres adoráveis,
Tenho muitos loucos camaradas,
Todas pessoas muito amáveis.

Quando encontro essa galera
Surge no meu rosto um sorriso.
Dou um tapa na velha pantera,

E a alegria que preciso
Doma essa indomável fera,
Que no Manhattan morre no piso.

Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

(Nota: dedicado aos meus amigos do curso de Filosofia na UEM, galera gente boa parceira das noites de bebedeira no Manhattan e no Bora Bora)

Soneto dos 24 anos de idade

A minha infância já ficou à margem
E agora se vai minha tardia adolescência
Ainda com tão pouca malandragem
Mas também com tão pouca inocência

Já se passaram meus dias de mamadeira
E também os velhos dias do Jardim
Passarão também estes de bebedeira
Mas sempre terei algo do boêmio em mim

Sou velho demais para continuar errando
E novo demais para muito ter aprendido
E ainda não me acostumei com tanta seriedade

Quero ser amado e sempre estar amando
Para que no fim de tudo não me sinta arrependido
É assim que são meus vinte e quatro anos de idade

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Manual do Militante

Subverta horizontalmente a ordem hierárquica.

Abstraia em densas teorias e conceitos precisos toda a práxis revolucionária necessária para mudar um mundo confuso e sombrio.

Enfrente de peito aberto todas as injustiças, e não tenha medo de morrer.

Tenha o pulso firme com os inimigos, e um abraço caloroso para os amigos.

Mas acima de tudo, não se esqueça de amar!


A doce loucura de um beijo é o único refúgio da insanidade deste mundo.

Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

(Nota: poema exibido num "sarau" de Ciências Sociais e Filosofia na UEM)

Paixão árida

Como que tanta paixão tornou-se árida? Tua ausência me lastima. Sempre soube que o fim seria doloroso, mas a magnitude desta dor só tornou-se evidente depois de algum tempo. Alguns meses atrás juramos amor sem fim, e agora a indiferença do teu olhar passa por minha alma como um furacão. Não sei o que esperar de amanhã, mas minha vida há de acabar que seja no êxtase de um instante e não a agonia de uma morte lenta. Não quero morrer aos poucos. Quero sentir tudo de uma vez, como foi o nosso amor.

Eu não sou mais o mesmo, e tenho procurado desesperadamente saber quem sou. Minha intensa boemia é apenas um reflexo da minha dor. As vezes me convenço que estou bem, e quase sempre todos acreditam. Carrego um sorriso como uma máscara para não chorar. Tenho saudade do teu beijo, de nossas longas conversas ao longo da madrugada...

...tanta intimidade dissolvida na indiferença.

Paro, penso, e nada mais me faz sentido. Não quero racionalizar tudo o que sinto, nem transformá-lo em arte. Quero apenas desfazer-me desta dor. Não tenho ombros para carregá-la. Da mesmo forma como não soube manejar tanto amor, não sei como conduzir tanta dor. Não consigo parar de pensar em como o mundo é injusto, e tenho dificuldade em aprender as lições da vida. Me sinto vazio, e ao mesmo tempo ainda dói tanto. É cruel contrastar a alegria do começo de um amor com tortura de seu fim. As coisas perdem seu sentido. Me resta apenas a agonia de ser só. Minha única companheira é a vida, e por vezes a detesto. Ela que me deu tudo de melhor, os mais intensos momentos de amor, e as tristezas mais profundas.

Mas quer saber? Que se dane tudo, eu vou viver ao que há de melhor na vida! O tempo é curto demais para carregar tanta dor...

e eu não tenho paciência para sofrer.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

Soneto do Desencargo

Queria escrever um soneto
Que fosse doce e amargo,
Feito gosto de Amaretto,
Pra minha alma um desencargo.

É assim que é o meu amor:
Metade é pura alegria,
A outra metade é pura dor,
E o meio-termo é poesia.

Minha alma as vezes chora,
E outras vezes ela ri.
E quando chegue minha hora

Deste mundo ir embora,
Jogarei minhas mágoas fora,
Porque de amor foi que vivi.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010

Quero me enganar

Você, que tanto me acusou de ser machista, possessivo e ciumento, de só pensar em mim, não imagina a dor que eu sinto.

Já passei por isto antes, mas desta vez é tão mais doloroso e distinto.

Te libertei das minhas correntes, querendo que você seja feliz,

Mesmo que nosso fim nunca foi algo que eu quis.

Pensei só em você, e pelo menos nesse instante não pensei nem um pouco em mim.

Tentei tanto não pensar que realmente seria nosso fim.

Evitei pensar na dor que com certeza me acompanharia,

esta dor agonizante e insensata que era óbvio que sentiria.

Então me refugiei nos meus amigos, me escondi nas mesas do bar.

Tentei fingir que não doía, mas não consegui me enganar.

Queria tanto ser tuas asas, mas acabei sendo tua prisão.

Talvez um dia você possa estender-me teu perdão.

Os amigos que você tanto queria, agora você tem.

Eu sei que deveria estar feliz, porque te amo e quero o teu bem,

Mas quando eu vi tuas fotos de balada, comecei a chorar...

O que eu quero mais que tudo é conseguir me enganar.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010

sábado, 31 de julho de 2010

Poeminha quântico

Toda partícula subatômica
é uma projeção da consciência.
Uma onda de probabilidades,
é assim que dita a ciência.

A teoria do mundo quântico
nos revela que o material
depende do observador
para poder virar real.

Pensando bem na teoria
não é difícil enlouquecer,
porque a realidade deste mundo
nós não podemos perceber.

As ciências sociais
explicam nossa sociedade,
mas a física moderna
questiona toda a realidade.

Pensadores como Marx
nos explicam a miséria,
e outros como Kaku
indagam-se sobre a matéria.

Cada um em sua área
merece o seu louvor,
mas nenhum dos dois sabe
explicar o que é o amor.

Então encerro este assunto
porque é muita teoria,
e nunca terá a beleza
que só há na poesia.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010

(Nota: poema em homenagem aos meus amigos que nunca se cansaram das intermináveis horas de discussão sobre a física quântica e a essência da realidade. O físico ao qual faço referencia é Michio Kaku, dos EUA, e Marx acho que não precisa de introdução.)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estética Sintética

Estética sintética,

aqui é tudo artificial.

Falta prosa poética,

ou qualquer resquício de algo natural.

As máquinas são cheias

de conservantes com sabor,

mas eu quero um abraço

para acabar com esta dor.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Miami 2010

(Nota: escrito algumas semanas atrás no aeroporto de Miami, enquanto fiquei detido um dia pelo Homeland Security após negarem minha entrada nos EUA quando ia visitar meus pais. Dormi na frente de uma máquina que vendia alimentos, todos completamente artificiais, que foram minha única forma de alimentação durante esse dia)

Pecado e Virtude

I

Que morrer seja meu último pecado,

e viver,

minha maior virtude,

assim no fim desses longos anos

eu possa dizer que vivi tudo o que pude.

Eu, humildemente, não quero envelhecer cheio de lamentações.

Aceito no máximo a nostalgia

de ter vivido tantas paixões.

II

Espero ser lembrado por minhas virtudes

e não por tanto ter pecado.

Reconheço que na vida

tenho tanto estado errado.

Mas a maioria dos meus erros

cometi querendo ser amado,

e talvez em virtude disso

eu seja um dia perdoado.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - São Paulo/San Rafael 2010

Avenida Paulista

A Avenida Paulista pela noite. Uma loira senta na escada e espera o lotação. No meio de uma aparente melancolia, passa um cão e ela solta um sorriso. A poucos metros dela um músico solitário toca o saxofone, a doce melodia de seu jazz se mistura com o som caótico dos carros. Dessa síntese nasce uma paisagem sonora única.

Entre o barulho do urbano ainda há espaço para a beleza.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - São Paulo 2010

(Nota: escrito algumas semanas atrás após negarem minha entrada nos EUA. Fiquei um dia detido pelo Homeland Security e voltei para São Paulo, onde perumbulei pelas ruas durante um dia escrevendo o que via até embarcar para a Argentina, onde estou agora)

Valkíria

Valkíria, queria que você soubesse o meu grande prazer

de estar diante da tua forma tão simples de ser.

Você é linda sem precisar de maquiagem ou de qualquer outra forma de bobagem,

e com teus 17 anos, cativou meu coração que carrega tanta, mas tanta bagagem.

Todas minhas mágoas de amor, minha saudade, e este imenso oceano de dor,

desfizeram-se com teu sorriso, e me senti mais uma vez um sonhador.

Mas tua inocência é pura demais para minha malícia cortejar,

então me resta apenas agradecer-te por devolver-me a esperança de amar.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010


(Nota: poema respeitosamente escrito para uma amiga em San Rafael, na Argentina)

Cair e Levantar

Não sei se amo sofrendo, sofro amando, ou se amo mesmo é sofrer

O amor é irracional, não importa de que forma eu tente ver

Com os anos aprendi que nem tudo neste mundo pode-se entender

e quanto mais eu tento, mais eu me esqueço de viver

Que coisa estranha que é o amor, e que agonia que é amar!

De uma triste solidão, te deu asas para voar

Mas mesmo no alto da alegria, saiba que pode acabar

e a queda sempre é forte, quando tuas asas o amor castrar

Feridas viram cicatrizes, e as marcas nunca somem

Mas lembre-se amigo, a dor não é maior que este homem!

Mais importante que saber cair, é saber se levantar

e enterrar as dores do passado, para um dia voltar a amar.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

(Nota: da série A Última Palavra é o Amor, escrito após o fim de um namoro)