quinta-feira, 14 de julho de 2011

Aquele moleque do semáfaro

Aquele moleque do semáforo
hoje foi atropelado

Quantas vezes não passei
e falei que não tinha grana?

Neste mundo cruel
viramos a cara para não ver

É mais fácil ser cego
do que sentir-se covarde


Aquele moleque do semáfaro
nunca mais vai caminhar

O Estado, soberano,
pouca coisa vai fazer

E a sociedade, cega,
vai virar a cara pra não ver


Quando ele não estava na avenida
matava a fome cheirando cola

Aquele moleque no semáfaro
é apenas uma criança.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

Anatomia do ódio de um extremista

Nas tuas entranhas
a vontade de matar

nos teus olhos
a vontade de não ver

na tua garganta
ofensas entaladas

um sorriso por vingança
o perfume da própria morte

tua raiva desmedida
parece não ter fim

você quer matar
por medo de morrer

mas na verdade algo já morreu em ti

Eres a sombra do passado
....uma ferida aberta neste mundo.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

Horas noturnas

Nas solitárias horas noturnas da minha insônia
(esse vil purgatório da minha dor)
a incerteza é infinita

Durante o dia eu fujo da inimiga introspecção
me refugio na minha confortável vida em sociedade

Mas nessas horas solitárias e noturnas
não há para onde correr
e o tédio dos minutos não tem fim

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Nota: escrevi este poema no ano passado, e ele ficou esquecido até eu achá-lo ontém.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Carta de Alforria

Acordo solitário no meu quarto
e ascendo um baseado

Ta tudo uma bagunça

minha vida
meu quarto
o mundo la fora

Não tenho um puto no bolso
e tantas contas pra pagar

Viver custa caro
e pros meus desejos não sobra quase nada

Me restam apenas os pequenos vícios
um maço de cigarro paraguaio
uma tubaína e qualquer pinga vagabunda

Cansei de Maringá
e sei que é minha culpa ainda estar aqui

Quero sair livre pelo mundo
respirar o ar de todas as terras
e ouvir todas as línguas

Mas minhas obrigações me prendem como uma âncora

contas
dívidas
diplomas

Quero rasgar a pequena jaula da minha existência
e derrubar todos os muros

Cansei de ser detento
de esperar que o destino me liberte

Vou escrever minha própria carta de alforria
e sair pro mundo pra ferir o Capital

Carrego comigo a certeza
que tudo pode mudar
e a vontade inquietante
de viver
de conhecer
e de lutar

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

domingo, 3 de julho de 2011

Linhas vagas

Não vieram mais cartas
apenas contas
multas
atrasos

A frustração a que me constringe o Capital

Estou longe dos sonhos de consumo
Não tenho ticket do R.U.
nem maço de 2000

Tenho apenas sonhos para consumir
e a vontade de beber

E uma carta em branco para o mundo
em que traço como analfabeto
as linhas vagas do meu destino

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011