terça-feira, 24 de maio de 2011

Uma noite quente e úmida no Bar Sem Nome

Era uma noite dessas
quente
úmida
...em que a única fuga da ansiedade
é uma cerveja bem gelada

Eu estava no Bar Sem Nome
(já no meu quinto litrão)
quando ela chegou toda suada
e sentou-se do meu lado
sorridente
com um cigarro na mão

Eu lhe pedi um trago
e senti o gosto de seus lábios
o perfume de seu batom

Enquanto eu falava ela sorria
e eu falava cada vez mais de mansinho

Olhava fixamente nos seus olhos
e via o suor escorrer delicadamente de seu pescoço

Ela pediu licença para ir ao banheiro
e quando voltou
sentou-se bem pertinho

Encostou sua coxa na minha perna
e com os olhos
percorreu todo o contorno dos meu lábios

Fez-se um silêncio tímido no espaço entre nossos sorrisos
e a calma úmida da noite
rompeu-se explosivamente
num beijo cálido e macio

Bar Sem Nome, meu mais querido lar,
me destes na boemia uma noite espetacular!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quando venha o frio austral

Que venha o frio
que ainda não chegou

Tomaremos chocolate quente
com conhaque
e as vezes quentão

Tomaremos muita cachaça
e ao trocar idéia
...sairá vapor de nossas bocas

Que venha o frio
para que não acorde suado
quando durmo de conchinha

O abraço será nosso abrigo
e o calor humano,
a medida da felicidade

Que venha o frio
para que os Ypês da UEM floresçam
e amanheçam na neblina

A vida será mais linda
quando chegue o frio austral

E nossas noites serão de calma e carinho

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perante as Araucárias

Hoje eu te ofereço meu silêncio

Tudo que falo é mentira
Tudo que sinto é invenção
Então me calo

Quero ajoelhar-me perante as Araucárias
E ouvir o céu

Pedir perdão por meu rancor

O frio das madrugadas de outono me lembra à outra época
Mas eu não quero pensar

Tantas vezes tenho sido como o vento
Passado por várias vidas
e sumido

Roubado o cheiro de perfumes
E os guardado na minha memória

Quero dizer que eu vivi
E gritar aos quatro ventos:
ESTOU AQUI!

Mas hoje
Eu te ofereço meu silêncio
Compartilho meu vazio

Vou ajoelhar-me perante as Araucárias
E ouvir o céu

Hoje o vento há de passar por mim

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

terça-feira, 17 de maio de 2011

Meio-poemas (sinto que é inútil toda esta escrita)

Eu escrevo mil meio-poemas
Que não consigo terminar

E cada um dói como uma ferida
Como se desperdiçasse parte do meu ser

Sinto que aborto pedaços da minha alma
E os vomito em versos ríspidos e toscos

Não sei se sou parasita das palavras
Ou se são elas que de mim se alimentam

Não quero mais esta fadiga
Este cansaço que arde todos os dias
Esta obsessão

Mas me desespero quando não tenho uma caneta
E nem sei porque escrevo

Acho que escrevo simplesmente por predestinação
Por sentir angústia

E quando não termino um poema
Sinto dor
Sinto fracasso

Sinto que é inútil toda esta escrita

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A professora fala...

Depois de um dia inteiro de intermináveis discussões
E de grandiosas disputas políticas
entre egos mesquinhos
Eu entro na minha sala
(já desgastado)
e a professora fala...

Eu desenho no meu caderno
Contemplo minha vida
Finjo prestar atenção
e a professora fala...

Eu vou lá fora
Fumo uns 2 ou 3 cigarros
Troco ideia (papo furado)
E quando canso de enrolar
volto pra sala
e a professora fala!

Desta vez eu tento prestar atenção
(juro que tento!)

Até anotações eu faço
Mas me bate uma canseira
E entre as palavras da professora
(que ainda não parou de falar)
eu dou umas pescadas

Eu volto lá fora
Fumo ansiosamente mais uns 3 ou 4 cigarros

Papo vai, papo vem...
Eu olho pela janela

e Meu Deus, a professora ainda não parou de falar!

Eu acendi mais um cigarro
Abandonei o meu caderno
E fui pro bar!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poema aos meus calouros

Ah calouros, que saudade de uma época que nunca foi!

Bem-vindos à desgraça
À adolescência forever
Ao Big Brother Brasil
Às novelas da Globo
À panelinhas
À festas exclusivas
À dogmas mesquinhos
À aulas intoleráveis
À usar o orkut como substituto à uma vida social
À professores que estão convencidos que são deus
E alunos que temem viver

Bem-vindos!
O mundo é bonito
E perfeito
Sociais da grana
Ninguém bebe
Muito menos usa drogas

Não há luta de classes
Nem proletariado
Nem burguesia

Há Big Brother Brasil!
Há trocar idéia com meia dúzia
E ser descolado

Há falar da roupa da tua professora
E de teu colega que falta à aula
Há lindas fofocas
De quem fez o quê

Ah, como queria recitar Poema em Linha Reta
E tomar uma dose de um real no bar do Seu Pedrinho
E falar das constradições entre Álvaro de Campos
E o grande mestre Caieiro

O importante é o orkut!
A vida é secundária

Depois do trote
Os loucos ficarão com os loucos
E os caretas com os caretas

Que belas panelinhas!
Que bela integração!

Pagarei meu dízimo
Levarei uma Ypioca
Tomarei tuas bebidas
Fecharei o Bora Bora
Aguardarei o ERECS!

Fingirei ser simpático
Ser politicamente correto

Usarei jargões mastigados
Falarei de Anarquismo
E da noite passada

Cantarei velhas músicas do Adoniran Barbosa
E de Led Zeppelin (que é um som do caralho!)

Assistirei aulas com meus calouros
(que não reprovaram dois anos seguidos)
Direi que Sociais só vale o diploma
Ficarei triste depois de comer no R.U.
Tomarei um café
Fumarei meu cigarro paraguaio
Reclamarei de como falta Rock n Roll em Maringá

Irei ao Sarau e fingirei que é cultura
Obedecerei à autoridade em nome de passar de ano

Negarei ser sujeito da minha existência
E contemplar a dualidade partícula-onda
E vomitar teorias idosas
E encher meu Currículo Lattes
Como se enche o lixo do banheiro com papel higiênico com merda

Ah, Big Brother Brasil!
Prefiro dormir
À fingir que estou acordado

Ciências Sociais
Que curso da moda!
Vamos entender o que é cultura
E ser alternativos

Vamos gastar 80 reais por mês com textos
E fingir que entendemos

Vamos escutar Belchior e trajar velhos símbolos soviéticos
E babar na Lady Gaga

Eiiiittttaaa, Big Brother Brasil!!!!!!
É isso que dá grana
Sociais da desemprego!

Vou fingir ser pegador
Vou fingir ser educado
Vou fingir saber do que falo

Não sei porque algumas coisas me irritam

Que saudade de uma época que nunca foi!
De um futuro que não será
De um presente que nã é!

Ah C67
Finado Revolução
A Salinas do Seu Adão
O velho sobradinho verde

Onde foram parar?

Como que viramos tão legais?
E tão descolados?

Quando que a vida do orkut
Virou mais real
Do que a vida real?

E o que é real?
É tudo socialmente construído?!?

Esperaremos sempre que os outros façam
Para que não tenhamos que fazer

Amemos Malhação
E coloquemos aquela baita foto linda no orkut
E ainda no fim
Todos cult e cool
Ouviremos Los Hermanos
(ou Chico Buarque)
Com uma reclamação sobre a indústria cultural
E um salgadinho de 3 conto na mão

E eu,
Bebasso
Gritarei "Satanás" em vosso trote
E muitos ficarão ofendidos
Por desafiar a sagrada moral judaico-cristã

Falarei de Pannekoek
E de Herman Goerter
E fingirei saber de Marx mais do que você

Falarei que eu detesto Antropologia
E que não aguento mais ler texto de aldeia

Farei uma defesa da Ciência Política
Te convidarei pro bar
Argumentarei contra a religião
E contra a moral
E contra a centralização

Te falarei de Ferreira Gullar
E da superação do concretismo
E de como o grande Aristóteles estava errado

Te falarei mais uma vez de Ypioca
(como se fosse o velho jargão)
E com certeza direi coisas idiotas
Com um puta bafo de cachaça

Te direi que o Kanarinhus é uma merda (e é)
Que o Democrático é palha
Que o Marcão é cuzão
E que o único bar decente é o Bora
(e é claro o Seu Pedrinho)

Te direi do quanto que detesto sertanejo
E amo o velho Blues

Fingirei no dia 21
Que você, calouro, é burro
E eu, veterano, sou esperto

Contarei até 5.000 no comunidade da minha sala
E falarei de sexo para ser legal

Encontrarei alguma forma de chamar atenção
E serei descolado
Muito descolado

Afinal das contas,
Sociais é um curso cool

Vou pretender que a vida é pura diversão
E esconder minhas palas
Para você não saber

Deus me livre, não vai na esquina do Manhattan na quinta-feira!
Nem me pergunte o que rolou anos atrás
Ou porque que eu sou queimado

Vamos ver MTV
Globo Reporter
Tudo Fantástico!!!

Eu sou um bolinho de arroz!
Minhas perninhas vieram só depois!
Eu não tenho boquinha pra sorrir?

Por que?

Vamos dançar funk no Nite
E fingir que não há moralismo
E muito menos vulgaridade

Vamos no Tribos ser do Rock!
E ser arrogante, como eu, nesta comunidade

Vamos escrever um monte de merda
Regurgitar discursos falsos
E no final de tudo
Sem saber o que dizer
Diremos que Ypioca é uma puta cachaça
(por valer 9 reais)

Vou fingir que meu gosto de bebida é melhor que o teu
E que minha roda é louca
E a tua careta

Vou dizer
(com todo preconceito)
Que Sociais não é agronomia
E que aqui não rola Produfest

Vou me gabar que minha universidade é estadual
E que é a melhor do Paraná

Vou pagar pau para a Marly
E a família Barros

Como adoro uma dose de conservadorismo na minha vida!
Lei seca, Lei seca, Lei seca

Que saudade das épocas do vestiba!
De ver a Mário Urbinatti lotada
Do tomar uma cachaça de Salinas na Padoka

E por que escrevi tudo isto?
Olha, eu não sei
Nem você vai saber

Mas ironia
Sarcasmo
E deboche...

É uma puta idiotice arrogante.

O que tenho à dizer
É que o trote será legal
Seremos todos descolados
E eu tomarei Ypioca

Alguns tomarão cerveja
Outros Jurupinga
Alguns te dirão que Catuaba é a bebida do curso (quando ninguém toma essa merda)

Alguns tomarão água
Alguns tomarão bebidas importadas
Alguns tomarão yakult
Alguns nem tomarão

Mas eu...
vou tomar Ypioca!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011

Nota: Escrevi este poema como protesto antes do início das aulas após ler os comentários infantis postados na comunidade de Ciências Sociais no orkut.

Tem tanta coisa p'ra mudar!

Não fique aí parado,
tem tanta coisa p'ra mudar!
Pense, participe e movimente-se,
para que ninguém negue teu direito de participar.

Você pode ser a gota
que move todo o oceano,
mas se você ficar aí parado
pode ser um grande engano.

Uma gota sozinha
não gera muito movimento,
mas muitas gotas juntas
podem mudar o pensamento!

Há cartazes por aí
cheios de celebridades,
que propagam tantas mentiras
e ocultam muitas verdades.

Não se contente com o mínimo,
tem tanta coisa p'ra mudar!
Outros pensarão por ti
se você não pensar.

Por trás de piadas velhas
há velhas pretensões,
não deixe que te excluam
de tomar as decisões!

É preciso ir à luta
É preciso descentralizar
se queremos garantir
o direito de participar.

É uma pena que alguns
defendam a censura,
quando quase todos querem
mais acesso à cultura.

É uma pena que alguns
querem ocultar a arte da vista,
não há porque pintar por cima
da obra de um artista.

As piadas perdem a graça
depois de contadas pela segunda vez.
A situação não é engraçada,
ela demanda lucidez.

Então na quarta-feira,
que é dia de eleição,
pense bem no seu voto
e vote com atenção!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Nota: Este poema foi usado na campanha vitoriosa da chapa Movimente-se UEM para o DCE, e faz referência à campanha do Bonde do Amor (cartazes com celebridades) e à censura que promoveram ao grafite do Isaac numa das portas do Restaurante Universitário.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sexo

Pois é
Eu gosto de sexo

E quem não gosta?

Em vez de estar escrevendo
Preferiria esta transando

Gosto de Seios
Pele
Cheiro
Sabor

Gosto de beijar
De apalpar
De sentir gemidos
Ao pé do meu ouvido

Nem sempre eu quero amor,
Há algo de errado nisso?

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2011