quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Rumo à tempestade do afeto

O outro dia eu fiquei te olhando...

você estava toda linda
cantando com os olhos fechados.

Naquele momento eu me dei conta
que a tua presença me faz feliz.

Eu senti um frio louco na barriga,
e a frustração inevitável de querer racionalizar
aquilo que só pode ser sentido.

Eu fiquei olhando você cantar,
tentando ignorar a multidão de sentimentos que surgia no meu peito,
quando o tempo parou....

e você ficou mais linda ainda.

Naquele momento me deu uma vontade enorme de ser feliz
de sepultar minha tristeza
e embarcar novamente rumo à tempestade do afeto.

Quando eu voltar
vou desmontar todos os tijolos da muralha interna
que me separa dos teus braços.

O ostracismo do meu coração há de chegar ao fim.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - San Rafael 2010


domingo, 26 de dezembro de 2010

Sob o impiedoso sol porteño

Estou sentado aqui em Buenos Aires
à beira do Rio da Prata
fumando meu cigarro
sob o impiedoso sol porteño
aguardando ansiosamente
meu vôo no Aeroparque

Já se foi um dia e meio de viagem
e finalmente Maringá parece longe
e San Rafael tão perto

(...andava um pouco enjoado das paredes rosas do DCE...)

Já é véspera de Natal
mas eu não ligo não
estou feliz em poder ver minha família
porque para um nômade como eu
é dificil se sentir em casa

...minha casa é qualquer lugar no mundo
onde estejam as pessoas que eu gosto...

Pedi um litro de cerveja Iguana
(não tem Quilmes e nao vou tomar Brahma na Argentina)
e com cada gole cai a ficha:
finalmente estou de férias!

Logo mais me aguarda a busca miserável por um emprego
(com a consciência clara que serei explorado)
As aulas intermináveis
(quando quero estar no boteco)
O Centro Acadêmico
O Diretório Central
(que queremos descentralizar)

Logo mais me aguarda o tédio e a correria
da minha vida cotidiana

Mas não é todo dia que eu tomo cerveja Iguana
e contemplo minha vida diante deste grande a calmo rio
(sob o impiedoso sol porteño)
admirando a poesia tecnológica do pousar e decolar
dos aviões de médio-porte
e o estrondoso som de seus motores Rolls Royce
e General Eletrics

Não é todo dia que a minha vida é surreal

Saravá Buenos Aires,
finalmente estoy de vacaciones!

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Buenos Aires 2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

Crucero del Norte

Dentro da infinitésima clausura deste ônibus
há espaço de sobra para eu contemplar
todas as retas e curvas da minha vida.


Eu olho fixamente através da janela
(tentando enganar o tédio que me assombra nesta viagem)
e com o passar das paisagens
passam-se cenas dos amores que eu tive.


Meu Deus, como tenho amado nesta vida!


Mas essas cenas já se foram
e como o sol que se esconde atrás do horizonte da Argentina
restou apenas minha dor
pincelada pelo céu em versos laranjados
tristes como um pôr-do-sol de inverno
(que anuncia que a noite fria está por vir)


Esta estrada é longa
e esta viagem demorada


Mas com o passar dos anos nesta vida
tenho tido a mais linda epifania:
depois de uma longa noite escura
há de vir um novo dia!



- Bartolomeu Parreira Nascimento - Argentina 2010
(Nota: escrito num ônibus do Crucero del Norte na viagem de Puerto Iguazu até Buenos Aires)

Rodoviária de Foz do Iguaçu (multidão em trânsito)

Que estranho este prazer inesperado
de ver a multidão em trânsito


Tanta gente diferente,
tantas cores e formatos dos olhos.


Tantas sonoridades distintas
pronunciadas pelas línguas viajantes.


Tantos destinos distintos.


Alguns tem as malas cheias de mercadorias
(é preciso ganhar dinheiro)
Outros tem as malas cheias de recordações
(é preciso matar a saudade)


Mas eu
na minha mala velha e rasgada
carrego apenas algumas roupas desbotadas
um par de havaianas
e um livro de Fernando Pessoa
(e é claro um caderno para escrever porcamente versos toscos)


Eu me sinto confortável
no meio dessa multidão em trânsito


é quase como se fosse um estado de transe
porque eu sou anônimo
e ninguém conhece os meus defeitos


E hoje à noite quase todos irao ao encontro de seus destinos


Alguns aparentemente alegres
e outros parecem viajar com dor no coração


mas eu
não estou nem feliz
nem triste


sinto apenas um estanho e inesperado prazer
de ver a multidão em trânsito


Porque no fundo da minha alma nômade eu sei
que não sou de lugar algum
e sim de todos os lugares


e ao ver tanta gente diferente
indo para os mais diversos destinos
eu me sinto em casa com meu povo:
os viajantes loucos e perdidos deste mundo.


- Bartolomeu Parreira Nascimento - Foz do Iguaçu 2010

Mal humor

Eu não sei porque sinto toda esta raiva
não sei explicá-la.

Talvez seja mágoa
talvez seja culpa desta dor

FODA-SE!

Hoje eu não tô p'ra brincadeira
Hoje eu não sou aquele cara alegre

Não quero sorrir
nem fingir ser idiota por mais um dia

Não venha me falar de amor
nem de política

Aliás,
não fale nada se quiser me ver feliz

Pague umas doses de Ypioca
e me arranje aquele belo salve sem amoníaco

Hoje é a condição exímia
do meu sorriso falso e desbotado

Amanhã
há de passar toda esta dor
e "se deus quiser"
há de melhorar também o meu humor

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Sinto teus olhos me olhando

Eu não te vejo
mas sinto teus olhos me olhando...
è uma sensaçao estranha.

Eu tenho medo de olhar
porque estou à beira da paixão...
e você é proibida.

...entao tento não olhar para não correr o risco de me apaixonar
de ficar mais uma vez perdido loucamente
e profundamente ferido

Na verdade
a felicidade para mim é proibida
(mas com você eu sei que seria feliz)

Tenho ficado tímido perto de ti
sem-jeito
porque à cada dia aumenta meu desejo de te beijar
de acordar do teu lado
de te fazer sorrir

Ando me sentido um tanto perdido
...viajo no meu pensamento
e quando vejo
estou pensando em ti!

"Adoro o jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto"
(como escrevi em outro poema)

Estou confuso
e nao sei se é apenas mais uma coisa a minha cabeça
mas me sinto diferente
porque eu sempre amei mulheres loucas na minha vida

Mas você...
é tão menina
e ao mesmo tempo
tão lúcida


O problema é que eu sou louco
e quem é louco
há de amar loucamente
...e você eu não posso amar

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

O jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto

Adoro o jeito que teu cabelo recai sobre teu rosto quando você lê um texto
E o jeito que você balança teu pé quando fica nervosa
Só você consegue transformar uma aula longa e intolerável
Numa experiência linda e prazerosa

Me desculpe pelos momentos em que eu fico te admirando
É uma coisa que eu não consigo evitar
Sou louco pelo teu sorriso irradiante
E apaixonado pelo teu jeito macio de falar

Adoro quando nossos olhos se encontram
As vezes sem querer, as vezes intencional
A tua alegria contagiante me encanta
E meu coração dispara quando te encontro num sarau

Vivo louco de desejo para sentir o gosto dos teus lábios
Mas morro de timidez quando você está presente
E por causa dessa adolescente e boba timidez
Nosso beijo ainda é uma dìvida pendente

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

(Nota: poema escrito alguns meses atrás para uma mulher que jà nao cativa mais meu coração)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Páginas brancas

Não consigo ver páginas brancas,
preciso escrever nelas

É uma angústia que sempre me acompanha,
porque há algo profundamente perturbador
na monotonia da folha vazia

Um tédio desesperadamente doloroso

...uma distância incalculável entre o que sinto
e o mundo externo

e é na tentativa de encurtar essa distância
(cuja plenitude é inatingível)
que eu sacio a minha angústia
e mancho com a minha dor
a vil pureza suja
da folha branca e vazia

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Poema à um camarada da Vanguarda Iluminada

Camarada,
que pena que fostes cooptado pela malevolência partidária

Tinhas no teu sangue a chama ardente da revolução
que se corroeu no triste reformismo vanguardista

Quanto autoritarismo mascarado!

Tua ânsia por justiça apodreceu
e tua sede de liberdade
se transformou em fome de poder

Que pena!

Te convenceram que só o mínimo é possível
e que os sonhos são pequenos e utópicos

Te ensinaram à obedecer
à vomitar cegamente frases prontas

Que pena que achas que o poder deve pertencer à poucos
e que teus dogmas doutrinários
são verdades absolutas

A centralização não é libertadora,
e não se muda o mundo
com duas bandeiras vermelhas
e meia-dúzia de panfletos

Uma vanguarda de elite
só serve para ser elite
e mandar em nome do proletariado

Enquanto nossa única escolha
seja escolher quem vai escolher por nós...
o mundo será uma merda!

O caminho para a emancipação humana
é claramente horizontal

....pena que você não enxergue isso, camarada

Mas lembre-se que você tem o livre arbítrio
e não precisa sempre obedecer a hierarquia

Ainda há tempo para mudar
e coragem para não obedecer

...não tenha dúvida disso, camarada.

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

Frustração

Deve haver algum sentido maior para esta vida
mas eu não consigo achá-lo

Eu sinto que nasci com um propósito
e tenho medo de não conseguir cumpri-lo
de viver minha vida em vão

Não consigo aceitar
que minha existência seja tão pequena

Tenho mágoa das minhas mágoas
raiva da minha dor
...pena do meu ego

Quero viver mais
do que é possível
viver
nesta
vida

As vezes penso que não tenho feito o suficiente
para que meus 24 anos tenha valido a pena

e nos anos que me restam
não sei como posso viver
mais do que posso viver

Uma
vida

não
me
basta

...e não sei se mil vidas bastariam!

Não há paz em todo o mundo
que acalme a frustração
de querer viver
mais do que é possível viver

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010