segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A vergonha do meu próprio egoísmo

Eu chorei
porque estava aqui sentado sozinho
fumando meu cigarro raivosamente
lamentando minhas mágoas de amor

quando num documentário
eu vi toda a força do povo
vi a injustiça deste mundo

e me senti tão fraco
tive vergonha do meu próprio egoísmo

O vazio que há dentro de mim
esta angústia
esta dor

é tão insignificante comparado com toda a dor que há no mundo

Eu me senti triste
por saber que me sinto triste
quando na verdade eu estou bem

e enquanto assistia o documentário
para me distrair da tristeza
que uma mulher me deixou
eu vi uma mulher chorar
pela dor que nunca vai lhe abandonar
da tristeza que o assassinato de seu filho lhe deixou

me senti vil e impotente
e o nojo que senti do mundo
também senti de mim mesmo

tive vergonha do meu próprio egoísmo
porque enquanto já me chamei de militante...

o que eu mais busco
não é mudar o mundo

é o prazer
a euforia

é sentir-me bem

Tantas madrugadas de festa
e tardes de ressaca...

no fim de tudo me sinto culpado
por não dedicar-me integralmente
à causa da revolução

por não ser um mártir

Pois é
acontece que perante as coisas boas do mundo...
mulheres
festas
(boemia)

eu sou fraco

e enquanto eu aproveito minha juventude
minha vida de estudante...

as velhas tragédias se repetem

(no mundo real
o coro continua à comer)

Pois é
eu tenho vergonha disso

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringa 2010

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