terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lamento confuso de um louco perdido

O sorriso dela foi um furacão que passou por minha alma

Destruiu tudo o que encontrou pelo caminho
e deixou apenas mágoa

Esse sorriso
que quase foi tudo
que foi tão meigo
foi desmanchado violentamente pelo vento desmedido desse furacão

o que eu achava tão puro
hoje me parece tão vulgar

Sei lá...
eu não quero mais nenhuma mulher vagabunda na minha vida

Não é moralismo
que elas façam o que queiram
elas tem o direito
mas não o direito de fazer o que querem comigo

Eu acho que talvez eu mereça mais

Já amei muito nesta vida
Tenho as mãos cansadas
de tantas carícias
de tantos poemas

e meus olhos?
nem falo das tragédias que já viram
e nem das lágrimas que já choraram

eles também estão cansados
Cansados demais

Já senti tanta paixão nesta vida
e houveram momentos em que compartilhei minha própria alma com algumas mulheres especiais
que foram poucas

já as que passaram na minha vida foram muitas
e nem todas merecem ser mencionadas

mas você...
foi a única que foi cruel

Talvez eu não mereça mais do que isso
porque afinal das contas
eu sou louco!
e também é louco quem não sabe disso

Os homens loucos
como eu
atraem mulheres loucas

é normal
faz parte da aritmética da vida

o problema é que eu não quero uma mulher louca

Eu quero uma mulher que me salve da loucura

mas de loucura
inteiramente
são feitas as loucas que me beijam

Mulheres loucas de noites loucas
da esquina do Manhattan
do último e do próximo sarau

mulheres loucas que são como figurantes na noturna paisagem etílica de Maringá
mas apenas figurantes

Mulheres loucas
que como todos os loucos
na verdade são tristes por dentro

e eu não quero mais essa tristeza

Quero a vida sadia que só a felicidade traz
mas sou preso à minha própria loucura
e se eu pareço livre
na verdade possuo apenas a liberdade restrita de uma profunda solidão

é que eu procuro as coisas certas nos lugares errados
procuro a salvação na boemia
mas só encontro mulheres loucas
e a perdição

Eu reclamo
mas não delas

na verdade eu reclamo de mim mesmo

pois é...

eu sei que sou canalha
que sou safado
louco
eu sei que eu não presto

mas há momentos em que eu sou só amor
e talvez seja carência
mas eu preciso demonstrar o amor que quero
preciso que saibam do meu jeito de amar
com toda sua intensidade
na esperança que eu seja amado assim também

ou talvez é pior do que isso
pode ser que eu preciso constantemente reafirmar que eu ainda posso amar...
porque eu já não tenho mais tanta certeza

ou talvez seja apenas nostalgia
daquele grande amor que tive
e que já se foi

saudade daquela mulher linda
que me aqueceu nas noites frias de Curitiba

aquela mulher que foi minha vida
que é inesquecível
e que hoje vê o sol nascer
enquanto eu o vejo morrer

Dela eu não guardo nenhuma mágoa
não há como

sinto apenas uma saudade imensa
e um carinho profundo

Foi ao perdê-la
para nossa própria juventude
que a boemia virou minha companheira inseparável

foi preciso ignorar o grande vazio que se instaurou no meu peito
já que não foi possível preenchê-lo

Eu sou louco
mas sei disso
e as vezes tento inutilmente me justificar

Meu lamento é confuso
é em vão

porque a verdade triste
é que eu não sei o que procuro
e muitos menos como achá-lo

Talvez o que eu procuro está em mim mesmo
e não há nada mais aterrorizante do que olhar para dentro
não há nada mais confuso do que a agonia da ansiedade

nem mesmo este lamento é mais confuso

e eu lamento mesmo
lamentar
sem saber o que lamentar

- Bartolomeu Parreira Nascimento - Maringá 2010

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